- Rosemary! Que alegria voltar a ver-te! Sentia-me tão horrivelmente só! Por que não apareceste antes?
Ela desprendeu-se e colocou-se fora do seu alcance.
Sob a aba inclinada do chapéu, dirigiu-lhe um olhar que pretendia irradiar irritação.
- Deixa-me. Estou muito zangada contigo. Foi com grande relutância que vim, depois da carta horrorosa que me escreveste.
- Qual carta horrorosa?
- Sabe-lo muito bem.
- Garanto-te que não sei de nada. Mas saiamos daqui. Vamos para um sítio onde possamos conversar.
Tornou a pegar-lhe no braço, porém ela repeliu-o de novo, embora continuasse a caminhar ao lado dele. Os seus passos eram mais rápidos e curtos que os de Gordon. E ao mover-se a seu lado, tinha o aspecto de algo de extremamente pequeno, lesto e jovem, como se ele tivesse' um animal pequeno - um esquilo, por exemplo- a saltitar à sua ilharga. Na realidade, não era muito mais baixa e apenas três ou quatro meses mais jovem. Não obstante, ninguém se lembraria de a descrever como sendo uma solteirona de quase trinta anos, como na realidade acontecia. Era' uma rapariga forte e ágil, com cabelo preto revolto, rosto pequeno triangular e sobrancelhas muito pronunciadas. Tinha um daqueles semblantes pequenos e alongados, cheios de personalidade, que se observam em retratos do século dezasseis. A primeira vez que se via tirar o chapéu ficava-se surpreendido, porquanto, na sua coroa, três cabelos brancos salientavam-se entre os pretos como fios prateados. Era típico dela nunca se preocupar em arrancar os responsáveis do contraste capilar. Continuava a imaginar-se uma moça muito jovem, tal como todos os que a conheciam. No entanto, olhando-a com atenção, as marcas produzidas pelo tempo achavam-se bem nítidas nas faces.
Gordon caminhava mais decididamente, com Rosemary a seu lado. Orgulhava-se dela. As pessoas olhavam-na e, por conseguinte, a ele também.
Já não era invisível às mulheres. Como sempre, Rosemary trajava irrepreensivelmente. Na realidade era um mistério como o conseguia, com quatro libras semanais.
