Num movimento furtivo, introduziu a mão na algibeira e pousou os dedos no dinheiro, algo receoso - tratava-se de um receio frequente nele - de que tivesse deixado cair alguma moeda. No entanto, conseguiu notar o contacto de um florim, principal moeda naquela ocasião. Restavam-lhe quatro xelins e outros tantos pence. Reconheceu que não tinha possibilidade de levar Rosemary a jantar. Teriam de percorrer as ruas para cima e para baixo, como de costume, ou, na melhor das hipóteses, ir tomar um café ao Lyons. Maldição! Como podia uma pessoa divertir-se sem dinheiro?
- Voltamos sempre' à questão do dinheiro - articulou, em tom de amuo.
As palavras brotaram inesperadamente e ela olhou-o, surpreendida.
- Que queres dizer com isso?
- Refiro-me a que nada corre bem, na minha vida. É sempre o dinheiro, dinheiro, dinheiro que está na base de tudo. E, em particular, entre nós. É por isso que não me amas realmente. Há uma espécie de película de dinheiro a interpor-se. Sinto-a cada vez que te beijo.
- Dinheiro? Que tem o dinheiro que ver com o assunto?
- Tem que ver com tudo. Se eu possuísse mais, amavas-me mais.
- Que disparate! Porque te havia de amar mais?
- Não o poderias evitar. Não compreendes que se possuísse mais mereceria mais amor? Olha para mim! Olha para a minha cara, para a roupa que visto, para tudo O' resto. Julgas que seria assim, se tivesse duas mil libras por ano? Se tivesse mais dinheiro, seria uma pessoa diferente.
- Se fosses uma pessoa diferente, não te amaria.
- Isso também é um disparate. Mas encara a situação de outro modo. Se fôssemos casados, dormias comigo?
- Fazes cada pergunta! É claro que dormia. De contrário, não faria sentido que tivéssemos casado.
- Nesse caso, supõe que eu era decentemente rico. Casavas comigo?
- Que adianta falar nisso? Sabes perfeitamente que não temos meios para tal.
- Pois não. Mas imagina que tínhamos. Casavas?
- Não sei. Sim, acho que casava.
- Então, aí está! Foi o que eu disse: dinheiro!
- Não, Gordon, não! Não é justo! Deturpas as minhas palavras.