- De modo algum. Tens o factor dinheiro no fundo do teu coração. Todas as mulheres o têm. Preferias que eu possuísse um bom emprego, não é assim?
- Não no sentido que' pensas. Sim, gostava que ganhasses mais dinheiro.
- E pensas que não devia ter saído da New Albion, hem? Querias que voltasse para lá e escrevesse slogans para o Molho Q. T. e para os Flocos Truweet, não é verdade?
- Não. Eu nunca disse isso.
- Mas pensaste, pensaste. É o que qualquer mulher pensaria.
Ele estava a ser horrivelmente injusto, e não o ignorava. A única coisa que Rosemary nunca dissera e provavelmente jamais se atreveria a dizer era que devia voltar para a New Albion. Mas de momento Gordon nem justo queria ser. O desapontamento sexual continuava a atormentá-lo. Não sem uma espécie de triunfo melancólico, reflectia que, no fundo, tinha razão. Era o dinheiro que se erguia entre ambos. Dinheiro, dinheiro, tudo se resumia a dinheiro! Rompeu numa tirada senti-séria:
- Mulheres! Que disparates extraem de todas as nossas ideias! Porque não nos podemos livrar delas e todas nos obrigam a pagar o mesmo preço. «Deita a decência para trás das costas e ganha mais dinheiro», é o que dizem. «Deita a decência para trás das costas, lambe as botas do patrão e compra-me um casaco de peles melhor que o da nossa vizinha.» Todos os homens que vemos têm um ralo de uma mulher pendurada ao pescoço como uma sereia, que os arrasta cada vez mais para baixo, para uma vivenda isolada em Putney, com mobiliário adquirido a prestações, uma telefonia portátil e uma aspidistra na janela. São as mulheres que tornam todo o progresso impossível. Não é que eu acredite no progresso - acrescentou algo insatisfatoriamente.
- Nunca ouvi tantos disparates juntos! Como se as mulheres tivessem a culpa de tudo!
- Em última análise, têm. Porque são elas que acreditam no código do dinheiro. Os homens obedecem-lhe (que remédio), mas não crêem nele. São as mulheres que o mantêm vivo. As mulheres, com as suas vivendas em Putney, casacos de peles, bebés e aspidistras.
