Olhou-o em silêncio por uns instantes e por fim afundou o rosto no peito dele, como se tentasse proteger-se de uma agressão. Na realidade, não conseguira continuar a conter as lágrimas. Chorava para o seu peito, furiosa com ele, odiando-o e, não obstante, apoiando-se-lhe como uma criança. Era a maneira infantil como se lhe agarrava, como um mero peito masculino para depositar o pranto, que mais o magoava. Com uma espécie de ódio a si próprio, pensou nas outras mulheres que, da mesma forma exacta, tinham chorado apoiadas ao seu peito. Parecia ser a única coisa que conseguia fazer com elas - provocar-lhes as lágrimas. Com o braço 'em torno dos ombros de Rosemary, acariciava-a desajeitadamente, numa tentativa para a consolar.
- Fizeste-me chorar! - soluçou ela, irritada consigo mesma.
- Desculpa, Rosemary querida! Não chores, por favor.
- Por que és tão mau para mim, meu querido?
- Desculpa, desculpa! Às vezes, não o posso evitar.
- Mas porquê? Porquê?
Acabou por conter as lágrimas e, um pouco mais calma, desprendeu-se e procurou algo para as secar. No entanto, nenhum dos dois tinha um lenço. Impaciente, Rosemary levou os nós dos dedos aos olhos.
- Somos sempre tão patetas! Sê gentil para comigo ao menos uma vez, Gordon. Vamos jantar e deixa-me pagar ai conta.
- Não.
- Só uma vez. Esquece essa ideia fixa do dinheiro.
Fá-lo apenas para me seres agradável.
- Já te disse que não posso. Tenho de manter a minha posição com firmeza.
- Mas qual posição?
- Declarei guerra ao dinheiro e tenho de obedecer às regras. A primeira consiste em nunca aceitar caridade.
- Caridade?! Estás mesmo a ser parvo, Gordon!
Ela voltou a abraçá-lo. Era um sinal de paz. Não o compreendia, e talvez nunca chegasse a compreender, mas aceitava-o como era, quase nunca protestando contra a sua sem-razão, Quando ela lhe ofereceu os lábios, notou que estavam salgados. Uma, lágrima introduzira-se neles. Apertou-a com vigor. A persistente sensação defensiva esvaíra-se do corpo.
