O Vil Metal - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 127 / 257

Rosemary fechou os olhos e afundou-se nele, como se os ossos tivessem enfraquecido, os lábios separaram-se e a pequena língua procurou a de Gordon. Era muito raro proceder assim. E, de repente, ao sentir-lhe o corpo ceder, ele julgou inteirar-se, sem margem para dúvidas, de que a luta mútua terminara. Ela agora era sua, quando decidisse possuí-la. No entanto, talvez não entendesse plenamente o que lhe era oferecido - tratava-se simplesmente de um movimento instintivo de generosidade, um desejo de o tranquilizar, de dissipar o odioso sentimento de ser antipático e impossível de amar. Ela não deixou transparecer nada disto em palavras. Era ai sensação do seu corpo que parecia dizê-lo. Mas mesmo que o momento e o lugar fossem apropriados, ele não a possuiria. Naquele instante, amava-a, sem todavia a desejar. O seu desejo só poderia reaparecer numa altura futura, quando não houvesse revolta no seu espírito, nem a consciência de quatro xelins e quatro pence na algibeira a atormentá-lo.

Por fim, as bocas descolaram-se, embora se conservassem próximas.

- Que estupidez, estarmos sempre a discutir, não achas, Gordon? Atendendo a que nos vemos tão pouco. - Tens razão. A culpa é minha, mas não o posso evitar. As coisas sobem-me à cabeça. O dinheiro está na base de tudo. Sempre o dinheiro.

- Ora, o dinheiro! Preocupas-te demasiado com ele. - Impossível. É a única coisa que merece preocupação.

- Mas havemos de ir ao campo no domingo, sim? A Burnham Beeches ou outro lugar qualquer. Era tão bom, se pudéssemos...

- Sim, eu gostava. Partiremos cedo e passaremos lá todo o dia. Hei-de arranjar dinheiro para o comboio.

- Mas deixas-me pagar o meu bilhete, ouviste?

- Não, prefiro ser eu a pagar os de ambos. Em todo o caso, iremos.

- E não queres que te pague o jantar... só esta vez, para demonstrar que confias em mim?

- Isso não. Lamento. Já te expliquei porquê.

- Bem, paciência! Temos de nos despedir. Está a fazer-se tarde.

No entanto, continuaram a conversar por longos minutos, de tal modo que Rosemary acabou por não jantar.





Os capítulos deste livro