- Sim, devem ser suficientes.
- Nada mais, senhorr?
- Bem, traga também pão, claro. E manteiga.
- Não desejam sopa, parra prrincipiarr?
-Não.
- Ou um prrato de peixe? Só as carrnes frrias?
- Queremos peixe, Rosemary? Por mim, dispenso-o. Não, nada de peixe.
- Ou um doce, a seguir? Só as carrnes frrias?
Gordon tinha dificuldade em dominar os músculos faciais, persuadido de que nunca detestara tanto alguém como o empregado na sua frente.
- Se quisermos mais alguma coisa, depois lhe dizemos.
- E parra beberr?
Tencionara pedir cerveja, mas agora não tinha coragem. Necessitava de recuperar o prestígio, depois da questão das carnes frias.
- Traga a lista dos vinhos.
O empregado ausentou-se por breves instantes e reapareceu com outro cardápio marcado pelas moscas. Todos os vinhos enumerados eram incrivelmente caros. Não obstante, no topo da lista havia um clarete a dois xelins e nove pence a garrafa, o que o levou a proceder a um cálculo mental rápido. Sim, podia incluí-lo na ementa. Assim, indicou-o com o polegar e pediu:
- Traga uma garrafa disto.
As sobrancelhas negras voltaram a arquear-se e o empregado permitiu-se uma intervenção iróica.
- Querr a garrafa inteirre. senhorr? Nao prreferre metade?
- Não, inteira - retorquiu Gordon, friamente.
Numa admirável decomposição de movimentos de desdém, o homem inclinou a cabeça, encolheu o ombro esquerdo e deu meia volta para se afastar. Gordon sentia-se cada vez mais indignado e trocou um olhar de inteligência com Rosemary. Tinham de meter o impertinente empregado no seu lugar! Este regressou pouco depois, segurando a garrafa de vinho barato pelo gargalo e dissimulando-a parcialmente debaixo do casaco, como se fosse algo de indecente. Entretanto, Gordon concebera uma maneira de se vingar. Quando o viu pousar a garrafa. rodeou-a com a mão, enrugou a fronte e declarou:
- Não é assim que se serve o vinho tinto.
- Perrdão? - Por. um momento, o outro mostrou-se perplexo.
- Está frio. Leve a garrafa e aqueça-a.