Cada um procurava desesperadamente algo para dizer, sem que lhe ocorresse coisa alguma. Gordon estugou o passo para alcançar Rosemary, pegou-lhe na mão e entrelaçou os dedos nos dela. Assim sentiam-se melhor. No entanto, o coração dele palpitava penosamente e notava as entranhas oprimidas, e perguntava-se se passaria o mesmo com ela.
- Não se vê ninguém cá fora - terminou Rosemary por dizer.
- É domingo à tarde. Devem estar todos a dormir debaixo da aspidistra, depois de' comerem carne assada e pudim de Yorkshire.
Seguiu-se novo período de silêncio, enquanto percorriam uns cinquenta metros, após o que, dominando a voz com dificuldade', Gordon observou:
- Está extraordinariamente quente. Podíamos sentar-nos um poucochinho, se descobrirmos um lugar conveniente.
- Pois sim. Se, quiseres.
Chegaram a uma área arborizada, à esquerda da estrada. Parecia morta e vazia, sem qualquer vegetação debaixo das árvores desnudas. No entanto, a um canto no interior, havia um maciço de abrunheiros e amoreiras. Ele colocou o braço em torno dela sem proferir palavra e conduziu-a para lá. Existia uma solução de continuidade na periferia, com arame farpado estendido no espaço vazio. Gordon levantou-o e Rosemary deslizou obedientemente por baixo. O coração dele voltou a sobressaltar-se.' Como era flexível e robusta! Todavia, quando passou por cima do arame farpado para a seguir, os oito pence - uma moeda de seis e duas de um - tilintaram na algibeira e refrearam-lhe de novo o entusiasmo.
A claridade morna incidia neles, como se tivesse quebrado uma membrana estendida ao longo do céu. Fazia um pouco de frio na relva, com o Sol encoberto, porém agora parecia ter regressado o Verão e eles soergueram-se para soltar exclamações de satisfação.
- Repara, Gordon! O sol ilumina tudo e parece produzir cores novas, mais vivas!
Enquanto as nuvens se dissipavam, o vale era banhado por feixes luminosos que douravam toda a paisagem. A vegetação até então de um verde baço, tornava-se esmeralda.