Era horrível senti-la repudiá-lo, naquele momento. Afigurava-se-lhe que acabava de ser atingido por um balde de água fria. Por fim, retrocedeu, desalentado, e começou a compor a roupa apressadamente.
- Que foi? Que tens?
- Oh, Gordon! Pensava que tu... oh, meu Deus!
Rosemary cobriu o rosto com as mãos e voltou-se para o lado, subitamente' envergonhada. - Que se passa? - insistiu ele.
- Como pudeste ser tão imprudente?
- Imprudente?
- Sabes perfeitamente ao que me refiro!
Gordon sentiu o coração contrair-se. Abarcava o que ela pretendia dizer, mas reconhecia que não lhe ocorrera.
Não obstante, devia ter pensado nisso infalivelmente. Levantou-se e evitou olhá-la. Compreendia que não podia prosseguir com aquilo. Num campo húmido, a uma tarde de domingo e, ainda por cima, em pleno Inverno! Impossível. Parecera tudo perfeito, natura, um minuto antes, todavia agora apresentava-se-lhe meramente' sórdido e hediondo.
- Não contei com isso - confessou, amargamente.
- Mas eu não podia deixar de te chamar a atenção! Devias tê-lo previsto.
- Decerto não esperavas que eu fosse comprar uma coisa dessas, hem?
- Não havia outro remédio. Preferias que eu tivesse um filho?
- Devias arriscar-te.
- És impossível, Gordon!
Ela conservava-se deitada e olhava-o, quase alarmada, demasiado perturbada para se lembrar da nudez. O desapontamento dele converteu-se em cólera. Voltava sempre ao mesmo! O dinheiro, mais uma vez! Mesmo nos actos mais íntimos da vida não se lhe pode fugir - é necessário estragar tudo com imundas precauções a sanque-frio por causa do dinheiro. Dinheiro, dinheiro, sempre' o dinheiro! Mesmo no leito nupcial, o dedo do deus-dinheiro não deixa de intervir! Nas alturas ou nas profundezas, encontra-se sempre presente. Deu alguns passos em breve vaivém, as mãos afundadas nos bolsos.
- O dinheiro, mais uma vez! - grunhiu. - Até em circunstâncias destas tem poder para nos cair em cima e transtornar.