Gordon examinou o cartaz com a intimidade do ódio. O semblante sorridente de idiota, como de um rato satisfeito, o cabelo preto liso, os óculos ridículos. O Mesa do Canto, herdeiro dos séculos; vencedor de Waterloo, o Mesa do Canto, o homem moderno como os chefes desejam que sejam. Um cevado dócil, sentado na pocilga do dinheiro, a tomar Bovex.
Passavam rostos amarelecidos pelo vento. Um «eléctrico» cruzou o largo, rápida e ruidosamente, e o relógio do topo do Príncipe de Gales badalou as três horas. Duas criaturas idosas - um vagabundo ou mendigo e, a mulher -, de agasalhos compridos, sebentos que quase chegavam ao chão, arrastavam os pés em direcção à livraria. Palmadores de livros, a avaliar pelo aspecto. Convinha não perder de vista as caixas à entrada. O velho ficou no passeio a três ou quatro metros, enquanto a mulher se aproximava da porta. Impeliu-a e ergueu os olhos para Gordon, entre madeixas de cabelos grisalhos, com uma espécie de malevolência esperançosa.
- Compram livros? - perguntou, em voz rouca.
- Às vezes. Depende do que forem.
- Tenho aqui alguns adoráveis.
Entrou e fechou a porta ruidosamente. O rapaz de cabelo trigueiro olhou por cima do ombro com desagrado e afastou-se um ou dois passos, para o canto. A velha puxou de um pequeno saco sujo debaixo do casaco e acercou-se mais de Gordon, com ar confiante. Cheirava a côdea de pão muito bafienta.
- Fica com eles? - aventurou, conservando o saco na mão. - Só meia coroa por todos.
- De que tratam? Deixe-me vê-los.
- São mesmo adoráveis - insistiu a meia-voz, inclinando-se para a frente, a fim de abrir o saco, e exalando uma súbita e intensa baforada a côdea bafienta. - Aqui os tem! - exclamou, e colocou uma braçada de livros muito usados quase debaixo do nariz de Gordon.
Eram edições de 1884 de romances de Charlotte M. Yonge, com toda a aparência de lhes terem dormido em cima durante muitos anos. Ele recuou um passo, subitamente revoltado.
- Não podemos