Essas coisas são muito mais fáceis quando se dispõe de algum dinheiro para gastar.
O táxi levou-o para a parte oeste da cidade, através das ruas que começavam a ser dominadas pela escuridão. Um percurso' de cinco quilómetros, mas ele podia permitir-se esse luxo. Entretanto, abandonara a ideia de despender apenas duas libras, naquela noite, Gastaria três, três e dez xelins - mesmo quatro, se lhe apetecesse. É verdade, ainda não enviara as cinco a Júlia! Fá-lo-ia pela manhã. A sempre prestável Júlia! Sim, receberia as cinco libras, que bem as merecia.
Como eram voluptuosos os estofos do táxi sob o seu corpo! Balouçou-se suavemente por uns momentos. Estivera a beber, claro - emborcara dois copos, ou porventura três, antes de partir para o encontro. O motorista do táxi era um indivíduo atarracado de ar filosófico, com faces enrugadas e olhar perscrutador. Ele e Gordon compreendiam-se. Tinham-se tornado amigos no bar onde Gordon ingerira as bebidas. Ou ando se aproximavam do West End, o homem parou, por iniciativa pessoal, diante de um botequim discreto numa esquina. Adivinhava o que se passava na mente do passageiro. Apetecia-lhe mais um copo. E a ele também. Mas seria Gordon quem pagaria. Era uma coisa que se subentendia.
-Leu-me o pensamento - disse este último, apeando-se.
- Sim, senhor.
- De facto, apetece-me uma bebida rápida,
- Calculei isso mesmo,
- E você acha que aguenta mais uma?
- Querer é poder - filosofou o motorista.
- Então, entremos.
Apoiaram-se ao balcão do bar, cotovelo com cotovelo, como velhos amigos, e acenderam cigarros oferecidos pelo motorista. Gordon sentia-se bem disposto e comunicativo. Agradar-lhe-ia contar a história da sua vida ao companheiro.
O barmen de avental branco aproximou-se e perguntou:
- Que vai ser?
- Gim - disse Gordon.
- A mesma coisa - informou o motorista.
- Parabéns - proferiu Gordon, momentos depois, erguendo o copo.
- Faz anos hoje?
- Só metaforicamente. Digamos que é o meu renascimento.