Pactos de suicídio. Cabeças introduzidas em fornos de gás de casas modestas. Preservativos e Comprimidos Ámen. E a reverberação de guerras futuras. Aviões inimigos a sobrevoarem Londres, o profundo ronco ameaçador dos motores, o ribombar destruidor das bombas. Está tudo escrito no semblante do Mesa do Canto.
Mais clientes a entrarem. Gordon recuou, cavalheirescamente servil.
A sineta da porta tilintou. Duas damas da classe média-alta penetraram ruidosamente. Uma, rosada e frutífera, a rondar os trinta e cinco anos, de busto voluptuoso saliente no casaco de pele de esquilo e exalar uma superfeminina fragrância de violetas de Parma; a outra, de meia-idade, dura e carilada - da índia, presumivelmente. A curta distância atrás delas, um jovem de ar desmazelado e acanhado deslizou pela porta aberta tão embaraçadamente como um gato. Era um dos melhores clientes da livraria - uma criatura discreta e solitária, quase demasiado retraído para falar, e que, graças a alguma estranha manipulação, se mantinha sempre a um dia de distância de uma barba escanhoada.
Gordon repetiu a fórmula:
- Boa tarde. Em que as posso servir? Procuram algum livro em particular?
A de rosto frutífero surpreendeu-o com um sorriso, porém a de expressão carilada decidiu encarar a pergunta como uma impertinência. Assim, ignorando Gordon, levou a de rosto frutífero para junto das prateleiras das novas edições, onde se encontravam os livros sobre cães e gatos. Em seguida, começaram a pegar em volumes e trocar impressões animadamente. A de rosto frutífero tinha voz de sargento de artilharia. Decerto era casada com um coronel, ou viúva. O rapaz de cabelo trigueiro, ainda imerso no livro sobre bailado russo, desviou-se delicadamente. A expressão deixava transparecer que abandonaria a livraria se a sua intimidade voltasse a ser profanada. Entretanto, o jovem acanhado já se encaminhava para as prateleiras da poesia. As duas damas eram frequentadoras regulares do estabelecimento. Mostravam-se sempre interessadas em ver livros sobre gatos e cães, mas nunca compravam nada.