-. Pomo-nos a mexer? - propôs Gordon.
Os olhos de Ravelston fitaram-no com uma expressão de súplica e culpa que envolvia a mensagem telepática: «Deixe-me pagar a conta!»
- Sugiro uma visita ao Café Imperial - acrescentou Gordon, ignorando-o.
A conta foi insuficiente para o tornar completamente sóbrio. Um pouco mais de duas libras pelo jantar e trinta xelins pelo vinho. Não permitiu que os outros a vissem e limitou-se a pagar. Largou quatro notas de libra na pequena bandeja do empregado e disse com naturalidade: «Guarde o troco.» Ficava assim com cerca de dez xelins, fora as cinco libras guardadas no sobrescrito. Ravelston ajudava Rosemary a vestir o casaco, e quando ela viu Gordon desfazer-se das notas, comprimiu os lábios num trejeito de desolação. Nem lhe passara pela cabeça a possibilidade de o jantar custar nada que se parecesse com quatro libras. Horrorizava-a a vê-lo esbanjar o dinheiro daquela maneira. Ravelston mostrava-se melancólico e desaprovador. Gordon voltou a irritar-se intimamente com a atitude deles. Porque não paravam de se preocupar? Ele não podia porventura permitir-se a despesa? Aliás, ainda dispunha da nota intacta de cinco libras.
Não seria sua a culpa se regressasse à pensão apenas com um péni!
Exteriormente, porém, mantinha-se sóbrio e muito mais calmo do que uma hora atrás.
- É melhor seguirmos de táxi para o Café Imperial - propôs.
- Vamos a pé! - contrapôs Rosemary. - É perto.
- Não, iremos de táxi.
Avistaram um livre e indicaram o destino ao motorista, com Gordon sentado ao lado dela. Sentia-se quase tentado a rodear-lhe a cintura com o braço, apesar da presença de Ravelston, mas naquele momento entrou uma rajada de vento frio pela janela e atingiu-lhe a fronte, produzindo uma espécie de choque. Era como um daqueles momentos da noite em que emergimos subitamente de um sono profundo e nos assola uma compreensão horrível - como a de que estamos destinados a morrer, por exemplo, ou a nossa vida constitui um estendal de desaires.