Durante cerca de um minuto, permaneceu friamente sóbrio. Abarcou tudo sobre si próprio e a terrível loucura que cometia - sabia que esbanjara cinco libras em tontarias absolutas e preparava-se para gastar as outras cinco que pertenciam a Júlia. Teve uma rápida, embora horrível visão da irmã, o rosto escanzelado e cabelo cada vez mais grisalho, na fria e solitária sala-quarto. Pobre Júlia... Sacrificara toda a sua vida ao irmão, que lhe sugara libra após libra e agora não tinha sequer a decência de lhe conservar a nota de cinco intacta. Recuou da imagem e voltou a refugiar-se na embriaguez. Depressa, depressa, que estamos a ficar sóbrios! Bebida, mais bebida! Recaptura aquele primeiro e delicioso êxtase! Lá fora, a montra multicolorida de uma mercearia italiana, ainda aberta, parecia ondular para eles. Gordon bateu bruscamente na divisória de vidro e o motorista imobilizou o táxi.
Em seguida, ele começou a mover-se para a porta, por cima dos joelhos de Rosemary.
-Onde vais?
- Recapturar o primeiro e delicioso êxtase - disse
Gordon, já no passeio.
-O quê?
- É altura de emborcarmos mais álcool. Os botequins fecham dentro de meia hora.
- Não, Gordon, não! Não bebes nem mais uma gota. Já tens muito mais do que a tua conta.
- Espera!
Reapareceu da mercearia com uma garrafa de litro de Chiemi. O merceeiro desrolhara-a, e os outros aperceberam-se então de que Gordon estava embriagado e decerto começara a beber antes' de se encontrarem, o que embaraçou ambos, Entraram no Café Imperial, todavia a ideia que predominava no cérebro de Ravelston e Rosemary era levá-lo para a pensão, o mais depressa possível. «Não o deixe beber mais, por favor!», murmurou ela, nas costas de Gordon, e Ravelston assentiu, com uma expressão grave. Gordon caminhava à frente deles em direcção a uma mesa desocupada, indiferente aos olhares estupefactos que os outros lançavam à garrafa que tinha na mão. Sentaram-se, pediram café e, não sem certa dificuldade, Ravelston impediu-o de pedir também brande. Achavam-se todos embaraçados.