Flaxman, porém, estava mais habituado a semelhantes situações e contemplava Gordon com o olhar experiente.
- Já os vi em pior estado - disse, jovialmente. Sabe a ideia que dão os seus olhos, compincha? Que foram extraídos e cozidos.
- Embebedei-me, ontem à noite - murmurou Gordon, conservando a cabeça entre as mãos.
- Eu suspeitava algo do género, compincha.
- Escuta, Gordon - interpôs Ravelston. - Viemos para pagar a fiança, mas parece que chegámos tarde. Vão levá-lo a julgamento, dentro de poucos minutos. É uma situação horrível. Foi pena não ter dado um nome falso, quando O' trouxeram.
- Eu disse-lhes como me chamava?
- Disse-lhes tudo. Lamento tê-lo perdido de vista. Não sei como, mas escapuliu-se daquele tenebroso hotel e não voltei a vê-lo.
- Vagueou pela Shaftesbury Avenue, bebendo da garrafa - disse Flaxman, em tom de compreensão. Mas não devia ter agredido o sargento, compincha! Foi um erro crasso. E, aqui para nós, a mamã Wisbeach está fula. Quando aqui o seu amigo apareceu na pensão, esta manhã, e lhe comunicou que tinha andado na pândega com ele, reagiu como se você acabasse de cometer um crime.
- E outra coisa, Gordon - volveu Ravelston. Havia uma nota familiar de desconforto na sua voz. Tratava-se de algo relacionado com o dinheiro, como de costume. Com o olhar fixo num ponto indefinido da parede, tornou: - Outra coisa...
- O quê?
- A multa. É melhor deixá-la a meu cargo. Eu pago-a.
- Nem pensar.
- Mas se não O' fizer, mandam-no para a prisão.
- Quero lá saber...
E, de facto, Gordon não queria saber. Naquele momento, ficaria indiferente, mesmo que o encerrassem na prisão durante um ano. Não dispunha de meios para pagar a multa, naturalmente. Sabia-o sem necessitar de rebuscar nas algibeiras. Devia ter dado todo o dinheiro que lhe restava a Dora ou, mais provavelmente, ela confiscara-lho. Voltou a deitar-se na cama e virou as costas aos visitantes. No estado deprimido e apático em que se achava, o seu único desejo consistia em se livrar deles.
