- Para já, fico desempregado. Mr. McKechnie não me manterá ao seu serviço, depois de saber que fui preso. De resto, não' me apresentei ao trabalho, ontem. Provavelmente, a loja nem abriu em todo o dia.
- Tudo se há-de compor, sem dúvida. - Ravelston voltou a bocejar. - Aquele fulano gordo... como se chama?... Flaxman telefonou a McKechnie e comunicou-lhe que você estava de cama com gripe. Exprimiu-se com grande convicção. Disse que tinha trinta e nove de febre. A dona da pensão conhece a verdade, claro, mas não creio que informe o seu patrão.
- Mas suponha que vem nos jornais!
- Diabo, pode de facto acontecer! A mulher-a-dias traz os meus às oito. Mas eles costumam referir-se a casos de embriaguez? Penso que não.
Mrs. Beaver apareceu com o Teleqraph e o Herald, e Ravelston mandou-a ir buscar o Mail e o Express, após o que os dois homens esquadrinharam apressadamente as respectivas secções. Graças a Deus, o assunto não chegara ao conhecimento da Imprensa. Na verdade, não havia razão alguma para que tal acontecesse. Gordon não era um piloto de corridas ou um futebolista internacional. Um pouco mais aliviado, tragou o pequeno-almoço e em seguida Ravelston saiu. Ficou assente que visitaria a livraria para se avistar com McKechnie, a fim de lhe transmitir mais pormenores sobre a doença do empregado e averiguar o aspecto da situação. Afigurava-se-lhe conveniente manter Gordon fora da circulação por uns dias. Este percorreu o pensamento durante toda a manhã, inquieto e acabrunhado, a fumar cigarros em série. Agora que se encontrava só, a esperança abandonara-o. Sabia instintivamente que McKechnie se teria inteirado da sua prisão. Não era uma coisa que se pudesse ocultar.
Por conseguinte, perdera o emprego e não havia nada a fazer a esse respeito.
Aproximou-se da janela e contemplou o cenário. Um dia desolador - o céu cinzento-esbranquiçado dava a impressão de jamais poder voltar a ser azul e as árvores choravam lentamente' para as valetas.
