Nenhum dos dois tivera jamais mobiliário que lhe pertencesse, pois viviam em quartos mobilados desde a infância.
Mal entraram, procederam a uma inspecção minuciosa ao apartamento, examinando tudo e todos os pormenores, como se constituísse uma novidade. Entregaram-se a breves manifestações de êxtase diante de cada componente. A cama de casal com os lençóis lavados, expostos sobre o edredão puxado para trás! As toalhas arrumadas na gaveta da cómoda! A mesa de pernas arqueadas, as quatro cadeiras, as duas poltronas, o divã, a estante, a carpeta indiana: vermelha, o balde do carvão de cobre, que tinham comprado barato no mercado caledoniano! E tudo lhes pertencia, todos os objectos eram deles... pelo menos, enquanto não se atrasassem no pagamento das prestações! Entraram na kitchenette. Estava tudo preparado até à mínima minúcia. Fogão de gás, com forno, mesa com tampo de mármore, suporte para a loiça, caçarolas: chaleira, esfregões, panos para secar os pratos - ate uma lata de Penahine, um pacote de sabão em pó e meio quilograma de detergente para a roupa num frasco de compota. Achava-se tudo pronto para ser utilizado, pronto para a vida. Podia-se preparar uma refeição imediatamente. Eles detiveram-se de mãos dadas junto da mesa com tampo de mármore e admiraram a vista da estação de Paddington.
- Como é divertido tudo isto, Gordon! Possuir um lugar realmente nosso, sem donas de pensão a interferir!
- O que me agrada mais é pensar que tomaremos o pequeno-almoço juntos. Tu, sentada na minha frente, a verter o café nas nossas chávenas. Como e curioso!
Conhecemo-nos há tantos anos e nunca tomámos o pequeno-almoço juntos.
- Vamos cozinhar qualquer coisa já. Morro de ansiedade por utilizar as caçarolas.
Rosemary fez café e levou-o para a sala no tabuleiro de laca vermelho que tinham comprado na Cave, de Saldos do Selfridge. Gordon aproximou-se da mesa «ocasional» perto da janela.
Em baixo, a rua principal achava-se banhada pelo sol, como se um mar amarelo hialino a tivesse inundado.