Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 3: Capítulo 3

Página 36
Noite após noite. sempre a mesma coisa. O quarto solitário, a cama sem mulher; pó, cinza de cigarro, as folhas da aspidistra. E ele tinha quase trinta anos. Num impulso de autocastigo, pegou num maço de Prazeres Londrinos, espalhou as folhas sujas na sua frente e olhou-as como se observasse uma caveira para um memento mori. Prazeres Londrinos, por Gordon Comstock, autor de Ratos. O seu magnum opus. O fruto (que fruto!) de dois anos de trabalho- aquela confusão labiríntica de palavras! E a realização daquela noite - duas linhas riscadas; duas linhas para trás em vez de para a frente.

A lamparina emitiu um som como um soluço abafado e apagou-se. Com um esforço, Gordon pôs-se de pé e tornou a estender a colcha em cima da cama. Talvez fosse conveniente deitar-se, antes que o frio aumentasse. Mas espera. Amanhã, há trabalho. Dar corda ao despertador e regular o alarme. Nada efetuado, nada concebido, merecera uma noite de repouso.

Passou algum tempo antes que lograsse reunir energias suficientes para se despir. Durante cerca de um quarto de hora, permaneceu deitado na cama vestido, mãos sobrepostas sob a cabeça. Havia uma racha no teto que parecia o mapa da Austrália. Por fim, conseguiu tirar os sapatos e as peúgas sem se endireitar. Ergueu um pé e olhou-o. Um pé pequeno, delicado. Insignificante, como as mãos. Além disso, estava muito sujo. Devia haver dez dias que não tomava banho, Envergonhado da sujidade dos pés, sentou-se e despiu-se, atirando a roupa para o chão. Em seguida, fechou o gás e enfiou entre os lençóis, tremendo, porque estava desnudo. Dormia sempre despido. O seu último pijama fora dado como incapaz, mais de um ano atrás.

O relógio lá em baixo badalou as onze horas. À medida que o frio dos lençóis se extinguia, o espírito de Gordon regressava ao poema que iniciara naquela tarde, e repetiu a única estância completada:

Vivamente, o vento ameaçador varre

Os flexíveis choupos, recém-despidos,

E os tubos escuros das chaminés

Inclinam-se para baixo; fustigados por chicotes de ar.

Cartazes rasgados agitam-se.

As palavras octossilábicas oscilavam-lhe na mente.

<< Página Anterior

pág. 36 (Capítulo 3)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Vil Metal
Páginas: 257
Página atual: 36

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 2
Capítulo 3 22
Capítulo 4 38
Capítulo 5 66
Capítulo 6 85
Capítulo 7 109
Capítulo 8 129
Capítulo 9 159
Capítulo 10 185
Capítulo 11 212
Capítulo 12 231
Capítulo 13 251