Advogava o socialismo, o amor livre, o desmembramento do Império Britânico, a abolição do Exército e Marinha, e assim sucessivamente. No fundo, era tudo muito divertido. Todos os rapazes de dezasseis anos inteligentes são socialistas. Nessa idade, não se descortina o anzol dissimulado no suculento isco.
De uma maneira cruel e infantil, ele começou a aprender os meandros do assunto do dinheiro. Numa idade mais jovem que a maioria dos outros, apercebera-se de que todo o comércio moderno é uma burla. Curiosamente foram os cartazes publicitários nas estações do metropolitano que lhe proporcionaram as primeiras luzes. Mal sabia, como dizem os biógrafos, que ele próprio um dia trabalharia numa firma da especialidade. Não obstante, não se resumia tudo ao facto de o negócio ser uma burla. Descobriu, e com clareza crescente, à medida que o tempo passava, que a adoração do dinheiro se guindava ao estatuto de uma religião. Talvez seja a única religião real - a única sentida - que nos resta. O dinheiro é o que Deus costumava ser. O bem e o mal já não têm qualquer significado além de malogro e êxito. Daí, a frase profundamente significativa: triunfar . O decálogo foi reduzido a dois mandamentos. Um para os patrões - os eleitos, os sacerdotes do dinheiro, por assim dizer -, «Ganharás dinheiro», e outro para os empregados - os escravos e subalternos-, «Não ficarás sem trabalho». Foi por esta altura que Gordon se inteirou da existência de Os Filantropos das Calças Rotas e leu a história do carpinteiro faminto que empenhava todos os seus bens, mas conservava a sua aspidistra. Desde então, a aspidistra tornou-se uma espécie' de símbolo para ele. A aspidistra, flor da Inglaterra! Devia figurar no brasão em vez do leão e o unicórnio.
Não haverá revolução em Inglaterra, enquanto se virem aspidistras nas janelas.
Ele agora não detestava nem desprezava os familiares - ou, pelo menos, não tanto. Ainda o deprimiam profundamente - as pobres velhas e mirradas tias e tios, dois ou três dos quais já tinham morrido, o pai,
