Gordon inspeccionou a fachada com atenção. Estava bem habituado a situações como aquela. Desenvolvera uma espécie de técnica sherlockiana para determinar se uma casa estava ou não habitada. Ah, subsistiam poucas dúvidas, desta vez! Apresentava o aspecto de abandonada. Não se desprendia fumo da chaminé, nem havia luz nas janelas. Devia começar a escurecer lá dentro, o que exigiria alguma forma de iluminação. E não se descortinava uma única pegada nos degraus de acesso, pormenor concludente.
Não obstante, com uma espécie de esperança desesperada} tocou à campainha. Na verdade, tratava-se de uma sineta antiquada. Em Coleridge Grove seria considerado mesquinho e iletrado possuir campainha eléctrica.
Clang, clang, clang, fez a sineta.
As derradeiras esperanças dissiparam-se. Era inconfundível o eco propagado no interior de uma casa vazia. Tomou a estender a mão para o cordão e aplicou-lhe um puxão que- quase o desprendeu. A reacção surgiu sob a forma de um badalar ainda mais plangente. Era absolutamente inútil insistir. Não soava nem uma sugestão de passo. Até o pessoal doméstico se ausentara. Naquele momento, ele deu-se conta de uma touca de renda, alguns cabelos pretos e um par de olhos jovens que o 'observavam furtivamente da cave da casa contígua. Era uma empregada que assomara para averiguar a causa do ruído. Quando o viu voltar-se, desviou a vista, e Gordon reconheceu o ridículo da sua posição. Uma pessoa tem um ar absurdo, sempre que toca à campainha de uma casa deserta. De repente, acudiu-lhe ao espírito que a rapariga estava ciente da situação, Sabia que a recepção fora cancelada e todos os convidados haviam sido prevenidos, salvo uma excepção: ele próprio. Como não tinha dinheiro, não merecia a pena preocuparem-se consigo. Ela sabia. O pessoal doméstico sabe sempre essas coisas.
Gordon deu meia volta e encaminhou-se para a cancela. Sob o olhar da rapariga, necessitava de se afastar com passos naturais, como se se tratasse de um pequeno desapontamento imerecedor da mínima preocupação.