O Vil Metal - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 83 / 257

Havia dois anos que ocupava aquele detestável quarto; dois anos mortais em que não conseguira nada. Setecentos dias desperdiçados, todos terminados na cama solitária. Indiferença, desaires, insultos - tudo sem hipótese de retaliação. Dinheiro, dinheiro, tudo se resumia ao dinheiro! Porque não o possuía, os Doring tratavam-no com indiferença, o Primrose rejeitava-lhe o poema e Rosernary negava-se a dormir com ele. Malogro social, artístico e sexual - vinha a dar tudo no mesmo. E a falta de dinheiro encontrava-se na raiz de tudo.

Impunha-se que retaliasse contra alguém ou alguma coisa. Não se podia deitar, com a carta de rejeição como última recordação na mente. Pensou em Rosemary. Havia agora cinco dias que escrevera pela última vez.

Se tivesse havido carta dela nessa noite, a devolução do poema não exerceria um impacto tão pronunciado. Ela declarava que o amava, mas não queria dormir com ele, e nem sequer lhe escrevia! Era igual a todas as outras. Desprezava-o e esquecera-o, porque não tinha dinheiro e, por conseguinte, carecia de importância. Ele enviar-lhe-ia uma carta enorme, para lhe explicar o que representava ser ignorado e insultado e fazer ver a crueldade com que o tratava.

Procurou uma folha de papel em branco e escreveu no canto superior direito:

Willowbed Road, 31, NW, 1 de Dezembro, 21.30

Mas ao chegar a este ponto, descobriu que não podia continuar. Encontrava-se com aquela disposição de vencido em que até a redacção de uma carta constitui um esforço demasiado grande. De resto, que lucraria com isso? Ela nunca compreenderia. Nenhuma mulher compreende jamais. Mas tinha de escrever alguma coisa. Algo que a magoasse- aquilo que mais desejava, naquele momento. Meditou durante um longo lapso de tempo e acabou por escrever, exactamente no meio da folha:

Despedaçaste-me o coração.





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