O Vil Metal - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 87 / 257

Não obstante, havia algo de curiosamente apologético nos seus movimentos e na expressão do rosto. Parecia sempre na iminência de se desviar do caminho de alguém. Quando exprimia uma opinião, fazia deslizar o indicador esquerdo ao longo do nariz. A verdade consistia em que estava a pedir desculpa, em todos os momentos da sua vida, diplomaticamente, pelo quantitativo elevado dos seus rendimentos.

Uma pessoa podia embaraçá-lo tão facilmente recordando-lhe que era rico como Gordon com a evocação da sua pobreza.

- Com que então, já jantou, hem? - observou, na sua voz de Bloomsbury.

- Há que tempos! Você não?

- Também, com certeza. Absolutamente!

Eram oito e vinte da noite, e Gordon não voltara a ingerir qualquer alimento desde o almoço. E Ravelston tão-pouco. Gordon não sabia que ele tinha fome, porém Ravelston estava consciente de que Gordon tinha, e este sabia que o outro se achava ao corrente. Apesar disso, ambos julgavam existir bons motivos para fingir que não lhes apetecia comer. Raramente, ou nunca, comiam juntos. Gordon não permitia que Ravelston lhe pagasse refeições e, por seu turno, não podia frequentar restaurantes, nem mesmo da rede Lyons ou A. B. C. Era segunda-feira e restavam-lhe cinco xelins e nove pence. Assim, podia pagar uma ou duas cervejas num botequim, mas não um repasto completo. Quando os dois homens se encontravam, concordavam sempre, com estratagemas silenciosos, não fazer nada que envolvesse dispêndio de dinheiro, para além do xelim, ou pouco mais, que se costuma gastar num botequim. Desse modo, mantinham a ficção de que não havia uma diferença pronunciada nos respectivos rendimentos.

Gordon aproximou-se um pouco mais do companheiro, quando principiaram a andar. Ter-lhe-ia mesmo pegado no braço, se não compreendesse que não podia fazer uma coisa dessas. Ao lado da figura mais alta e donairosa de Ravelston, parecia frágil, nervoso e miseravelmente sebento. Adorava o editor e nunca se sentia inteiramente à vontade na sua presença.