Com efeito, Ravelston não só tinha maneiras cativantes, como uma espécie de decência fundamental, uma atitude graciosa perante a vida, que Gordon raramente encontrava nas outras pessoas. Devia-se, sem dúvida, ao facto de ser rico.
Na verdade, o dinheiro compra todas as virtudes - sofre muito e é amigo, não se vangloria, não incha de orgulho, não se comporta sem decoro, nem busca os seus interesses. No entanto, em certos aspectos, Ravelston não era sequer como uma pessoa endinheirada. A degeneração celulósica do espírito que acompanha a abastança não o atingira, ou ele escapara-se-lhe graças a um esforço consciente. Na realidade, toda a sua vida constituía uma luta para se lhe escapar. Era por essa razão que consagrava o seu tempo e uma grande parte dos rendimentos à publicação de um mensário socialista impopular. E, à parte do Anticristo, o dinheiro brotava dele em todas as direcções. Uma tribo de «cravas» que variavam dos poetas aos artistas de pavimento procurava-o incessantemente. Quanto a si próprio, vivia com oitocentas libras anuais, ou por volta disso, mas até desses proventos se envergonhava. Reconhecia que não se lhe podia chamar propriamente um rendimento de proletário, mas nunca aprendera a governar-se com menos. Para ele, oitocentas libras por ano representavam o salário mínimo para viver, tal como as duas semanais para Gordon.
- Corno vai o seu trabalho? - perguntou Ravelston.
- Como de costume. É um trabalho monótono. Trocar impressões sobre Nugh Walpole com galinhas velhas. Suporta-se.
- Refiro-me ao outro trabalho... à escrita. Os Prazeres Londrinos seguem de vento em popa?
- Não me fale disso! Fazem-me cabelos brancos.
- Quer dizer que não estão a avançar?
- Os meus livros não avançam. Andam para trás.
Suspirou. Como editor do Anticristo, estava tão habituado a encorajar poetas desanimados, que isso se convertera numa segunda natureza para ele. Não precisava que lhe explicassem a razão pela qual Gordon «não podia» escrever.