Sangue Azul - Cap. 22: 10 Pág. 251 / 287

Esperava-se uma manhã de absoluta confusão. Um grande grupo instalado num hotel proporcionava um cenário turbulento e em transformação acelerada. Num período de cinco minutos chegou um bilhete, no seguinte um embrulho, e Anne não estava ali há meia hora quando a sua sala de jantar, apesar de espaçosa, pareceu mais do que meia: um grupo de velhas amigas sentou-se à roda de Mrs. Musgrove, e Charles voltou com os capitães Harville e Wentworth. O aparecimento deste último não poderia deixar de constituir a surpresa do momento. Seria impossível que ela não tivesse sentido que esta chegada dos seus amigos comuns não tardaria a reuni-los de novo. O seu último encontro fora muito importante na revelação dos sentimentos dele, o que proporcionara a Anne uma deliciosa convicção; mas temia, pela expressão dele, que a mesma infortunada persuasão que o levara a abandonar apressadamente a sala do concerto continuasse a prevalecer. Ele não parecia querer aproximar-se o suficiente para conversarem.

Anne tentou manter-se calma e deixar as coisas seguirem o seu curso, assim como concentrar os seus pensamentos neste argumento de confiança racional: «Com certeza que, se existir afecto constante de ambos os lados, os nossos corações terão de se compreender em breve. Não somos um rapaz e uma rapariga, para sermos capciosamente susceptíveis, iludidos por qualquer inadvertência momentânea e brincarmos caprichosamente com a nossa própria felicidade.» No entanto, poucos minutos depois, teve a sensação de que o facto de estarem na companhia um do outro nas presentes circunstâncias só poderia expô-los a inadvertências e más interpretações do tipo mais prejudicial.

- Anne - gritou Mary, ainda à sua janela -, tenho a certeza de que é Mrs. Clay que está lá em baixo, debaixo da colunata, na companhia de um cavalheiro.





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