Sangue Azul - Cap. 23: 11 Pág. 264 / 287

- E, com lábio trémulo, rematou tudo, acrescentando: - Pobre Fanny! Ela não o teria esquecido tão depressa!

- Não - concordou Anne em voz baixa e sentida. - Não me custa nada acreditar nisso.

- Não estava na sua natureza. Ela idolatrava-o.

- Não estaria na natureza de qualquer mulher que amasse verdadeiramente.

O capitão Harville sorriu, como se dissesse: «Reivindica isso para o seu sexo?» E ela respondeu à pergunta, sorrindo também:

- Sim. Nós com certeza não os esquecemos tão depressa como vocês nos esquecem a nós. Talvez seja mais destino nosso do que mérito nosso. Nós não podemos evitá-lo. Vivemos em casa, sossegadas, enclausuradas, e os nossos sentimentos consomem-nos. Vocês são obrigados a esforçar-se, têm sempre uma profissão, actividades, negócios de uma natureza ou outra que os remetem de novo, imediatamente, para o mundo, e a ocupação e a mudança contínuas enfraquecem depressa as impressões.

- Admitindo a sua afirmação de que o mundo faz tudo isso tão depressa aos homens - o que, no entanto, acho que pessoalmente não admito -, o caso não se aplica ao Benwick. Ele não foi obrigado a fazer nenhum esforço. A paz pô-lo em terra no próprio momento em que tudo aconteceu, e ele tem vivido connosco, no nosso círculo familiar, desde então.

- É verdade, é muito verdade - confirmou Anne. - Não me tinha lembrado disso. Mas que podemos nós dizer agora, capitão Harville? Se a mudança não se deve a circunstâncias exteriores, tem de dever-se a interiores. Só pode ter sido a natureza, a natureza do homem, que fez o capitão Benwick proceder como procedeu.

- Não, não se trata da natureza do homem. Eu não aceito que esteja mais na natureza do homem do que na da mulher ser inconstante e esquecer aqueles que amam. Acredito antes no contrário.





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