Sangue Azul - Cap. 8: 8 Pág. 75 / 287

Asseguro-lhe, capitão Wentworth, que temos muita pena de ele o ter deixado.

Estas palavras trouxeram ao rosto do capitão Wentworth uma expressão momentânea, um certo fulgor aos seus olhos brilhantes e uma crispação à sua bonita boca que convenceram Anne de que, ao invés de partilhar os bondosos desejos de Mrs. Musgrove quanto ao seu filho, ele provavelmente fizera alguns esforços para se livrar dele. Foi, porém, um abandono tão fugaz a uma sensação de divertimento, que não poderia ser detectada por alguém que o conhecesse menos do que ela. No instante seguinte estava perfeitamente senhor de si e sério, e quase logo a seguir dirigiu-se para o sofá onde Anne e Mrs. Musgrove estavam sentadas, instalou-se junto da segunda e começou a conversar com ela, em voz baixa, a respeito do seu filho, fazendo-o com tanta compreensão e encanto natural que demonstrava a mais generosa consideração por tudo quanto era verdadeiro e lógico nos sentimentos dos pais.

Encontravam-se realmente no mesmo sofá, separados apenas por Mrs. Musgrove, que se apressara a arranjar espaço para ele. Não se tratava, aliás, de uma barreira insignificante: Mrs. Musgrove possuía proporções substanciais e tinha sido infinitamente mais bem dotada pela natureza para exprimir boa disposição e bom humor do que ternura e sentimentalismo. E embora os sobressaltos do corpo magro de Anne e o seu rosto pensativo pudessem ser considerados completamente resguardados, isso não a impediu de achar que o capitão Wentworth não deixava de merecer algum crédito pelo autodomínio com que escutou os grandes e prolongados suspiros que a senhora soltou pelo destino de um filho com o qual, quando vivo, ninguém se importou.

Dimensões físicas e sofrimento mental não têm necessariamente de ser proporcionais.





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