O Mundo Perdido - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 100 / 286

Entre estas naves majestosas que se estendiam à nossa frente, não discerníamos nenhuma manifestação visível da vida animal; mas um movimento perpétuo por cima das nossas cabeças, muito acima, sugeria-nos o mundo inumerável das serpentes e dos macacos, das aves e dos insectos que também se viram para o Sol e que deviam contemplar com espanto as nossas silhuetas sombrias, minúsculas e cambaleantes, perdidas no seio das imensas profundidades da floresta virgem. Ao nascer do dia e ao crepúsculo os macacos uivadores gemem em coro, e os periquitos palram; mas durante as horas quentes apenas o zumbido dos insectos, tal como o ronco de uma longínqua ressaca, enche o ouvido, sem que, no entanto, algo se agite naquela paisagem de troncos que se confundiam uns com os outros na obscuridade que nos domina. Uma única vez uma criatura de patas arqueadas titubeou pesadamente no meio das sombras: um urso ou um tamanduá... Foi a única manifestação de vida no solo que percebi na grande floresta do Amazonas.

E, no entanto, certos indícios indicaram-nos que homens viviam em recantos misteriosos. Na manhã do terceiro dia tomámos consciência de um estranho ronronar grave, ritmado e solene, que lançava irregularmente os seus crescendos, aos solavancos, ao longo das horas. As duas canoas avançavam a alguns metros uma da outra quando o distinguimos pela primeira vez; logo os nossos índios pararam de remar com os pangaios e encolheram-se na imobilidade mais absoluta: pareciam ter-se transformado em estátuas de bronze; escutavam intensamente; o terror pintava-se-lhe nos rostos.





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