Até o mestiço fanfarrão e intrépido tinha um ar de cão enxotado. Aprendi, no entanto, nesse dia, e uma vez por todas, que Challenger e Summerlee possuíam ambos o mais elevado tipo de bravura: a bravura do espírito científico. Encontravam-se completamente no estado de espírito que conservou Darwin entre os gaúchos da Argentina ou Wallace entre os caçadores de cabeças da Malásia. Por um decreto da generosa natureza, o cérebro humano não pode pensar em duas coisas ao mesmo tempo: se se devota a uma curiosidade como a ciência, não tem lugar para se consagrar a considerações pessoais. Enquanto pairava sobre nós esta ameaça irritante e misteriosa, os nossos dois professores ocupavam-se de aves em voo, de arbustos na margem; a chacota de Summerlee respondia ao grunhido de Challenger: tudo isto tão tranquilamente como se estivessem sentados na sala de fumo do Royal Societys Club de Londres. Uma única vez condescenderam em discutir.
- Canibais Miranha ou Amajuaca!-disse Challenger voltando o polegar para o bosque que ecoava com o barulho dos tambores. - Certamente, senhor!-respondeu Summerlee. - Como sempre neste género de tribos, penso que utilizam a linguagem polissintética e que são do tipo mongo!.
- Polissintética seguramente!-disse Challenger com indulgência. Não conheço nenhum outro tipo de linguagem neste continente e apurei mais de uma centena. Mas confesso o meu cepticismo quanto à teoria mongólica.
- Estava convencido de que mesmo conhecimentos limitados de anatomia comparada permitiriam verificá-la-disse com acidez Summerlee.