O Mundo Perdido - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 105 / 286

A vegetação espessa cruzava-se por cima das nossas cabeças, entrelaçava-se para formar uma pérgula natural: através deste túnel de verdura, sob a luz de um crepúsculo dourado, corria o rio verde, límpido, belo em si mesmo, mas tornado ainda mais belo graças às tonalidades estranhas que o brilho do dia coado projectava na sua queda para terra. Claro como cristal, imóvel como um vidro, matizado de verde como a aresta de um icebergue, estendia-se à nossa frente sob um arco de verdura; cada movimento das nossas paga ias criava milhares de rugas na sua superfície brilhante. Era a avenida sonhada para o país das maravilhas. Deixámos de ouvir os sinais dos índios; pelo contrário, a vida animal tornara-se mais frequente; o comportamento amável dos animais mostrava que eles ignoravam tudo da caça e dos caçadores. Pequenos macacos de pêlos encaracolados, negros como veludo, com dentes brancos e olhos zombeteiros, vinham contar-nos montões de histórias. De vez em quando, um caimão mergulhava da margem com um grande ruído de água. Um tapir fitou-nos através de um buraco nos bosques e, depois, voltou a partir para vagabundear na floresta. Certa vez, a silhueta de um puma surgiu no meio das silvas: os seus olhos verdes, sinistros, contemplaram-nos com ódio por cima das espáduas amarelecidas. As aves eram particularmente abundantes, sobretudo as pernaltas, a cegonha, a garça e a íbis que erravam em pequenos grupos: havia-as azuis, vermelhas, brancas, empoleiradas nos troncos que faziam o papel de molhes no rio.

Durante três dias talhámos um caminho sob este túnel de verdura que brilhava ao Sol. Era quase impossível fixar à distância uma linha de demarcação entre o arco e a água: os seus verdes confundiam-se.





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