O Mundo Perdido - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 129 / 286

Lembro-me da minha última imagem antes de cair no sono: Challenger acocorado, a cabeça nas mãos, mergulhado numa meditação profunda, perfeitamente surdo à "Boa noite!" que lhe lancei.

Mas o Challenger que nos saudou quando acordámos em nada se parecia com o Challenger cuja imagem ensombrecera os nossos sonhos: a alegria, o contentamento de si próprio irradiavam de toda a sua pessoa. Fitou-nos enquanto nos sentávamos para o pequeno-almoço; brilhava-lhe nos olhos uma falsa modéstia; tinha o ar de dizer-nos: "Sei que mereço tudo o que sentem vontade de dizer-me, mas peço que poupem a minha humildade e que se calem." A barba agitava-se-lhe com exuberância, bombeava o torso, tinha metido uma mão no colete. Sem dúvida sucedia-lhe imaginar-se feito estátua nesta pose no pedestal vazio de Trafalgar Square, e acrescentando a sua contribuição aos horrores que infestam as ruas de Londres.

- Eureca! - gritou.

Os dentes surgiam-lhe por debaixo da barba.

- Cavalheiros! - prosseguiu. - Podem felicitar-me e podemos congratular-nos todos. O problema está resolvido.

- Descobriu um meio de acesso?

- Assim creio.

- E onde?

Como única resposta, apontou para o pico rochoso parecido com um acrotério, isolado à nossa direita.

As nossas caras, ou, pelo menos, a minha, contristaram-se quando o examinámos. No que respeita a fazer a ascensão, tínhamos a segurança dada pelo nosso companheiro. Mas um abismo vertiginoso separava-o do planalto.

- Nunca poderemos franqueá-lo! - gaguejei.





Os capítulos deste livro