O Mundo Perdido - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 215 / 286

Depois, nitidamente à parte e muito próximo da borda do escarpamento, destacavam-se' duas criaturas, tão estranhas e, noutras circunstâncias tão grotescas, que atraíram a minha atenção. Uma era o nosso companheiro, o Professor Challenger; os restos do casaco ainda lhe estavam pendurados nos ombros, mas a camisa fora arrancada e a barba enorme confundia-se com a confusão dos pêlos do peito; tinha perdido o chapéu; os cabelos, que haviam crescido muito compridos desde o início das nossas aventuras, eriçavam-se em desordem. Num único dia, este produto sensacional da civilização moderna tinha-se metamorfoseado num selvagem da América do Sul! A seu lado conservava-se o seu amo, o rei 'dos homens-macacos. Lorde John não se enganara ao afirmar que o rei dos homens-macacos se parecia com o Professor Challenger, com a única diferença de ter a pele vermelha: o mesmo arcaboiço atarracado e maciço, os mesmos ombros largos, a mesma maneira de deixar cair os braços, a mesma barba fremente que chegava ao torso cabeludo. Todavia, por cima das sobrancelhas a testa baixa, oblíqua, e o crânio abobado do homem-macaco contrastavam com a testa alta e o crânio magnificamente desenvolvido do europeu. Isto posto de parte, o rei era uma caricatura do Professor.

Este espectáculo, que descrevi muito demoradamente, gravou-se-me no espírito em dois ou três segundos. E tivemos a seguir muitos outros temas de reflexão, porque ia representar-se uma acção dramática. Dois homens-macacos tinham agarrado um índio, retirado do grupo, e conduziram-no à borda do escarpamento. O rei ergueu a mão: era o sinal.





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