Olhe, quando fez a reportagem sobre a explosão nas minas de Wigan, deveria ter descido e ajudado os salvadores, apesar da mofeta.
- Desci.
- Não contou isso!
- Não valia a pena falar no assunto.
- Não sabia...
Dedicou-me um olhar interessado, e murmurou: - Da sua parte era corajoso.
- Fui obrigado a isso. Quando um jornalista quer fazer um bom relato é necessário que se encontre no local onde se passam os acontecimentos.
- Que prosaísmo! Lá andamos nós evidentemente longe do romanesco, do espírito de aventura... Contudo, seja qual for o móbil que o inspirou, sinto-me feliz por ter descido a essa mina.
Deu-me a mão, mas com uma tal meiguice e uma tal dignidade que só fui capaz de inclinar-me para ela e beijá-la delicadamente.
- Confesso - prosseguiu - que sou uma mulher um pouco louca com caprichos de menina. E, no entanto, esses caprichos são tão reais, fazem de tal modo parte do meu ego, que a minha vida se adapta a eles: se me casar, desposarei um homem célebre!
- E porque não? - exclamei - São mulheres como você que exaltam os homens. Conceda-me uma oportunidade, e verá se a não agarro! Aliás, como sublinhou, os homens devem suscitar as suas próprias oportunidades, sem aguardar que elas lhes sejam oferecidas. Repare em Clive: um pequeno secretário, e conquistou as índias. Por Júpiter, também eu hei-de fazer alguma coisa neste mundo!
O fervor do meu sangue irlandês fê-la rir.
- E porque não? - disse - Possui tudo quanto um homem pode desejar: a juventude, a saúde, a força, a instrução, a energia. Sentia-me desolada com medo de que falasse...