Eurico, o Presbítero - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 86 / 186

Vai falar. Suíntila, a ponto de arremessar-se para aquele lado, pára e escuta as suas palavras. São lentas e lúgubres, como as de espectro que se alevantasse de alguma das campas derramadas ao longo da cripta. Dirige-as ao vulto branco que está a seu lado:

— Ainda uma vez, nobre dama, atendei às súplicas do velho bucelário que tenta salvar-vos. Para vós há esperança na terra: a nossa mora no céu. Quando os infiéis souberem que ainda existe na Espanha quem possa quebrar com ouro o vosso cativeiro ou vingar com ferro a vossa afronta, respeitarão a pureza de nobre virgem. A nós, que não temos ninguém no mundo, restava-nos unicamente o tremendo arbítrio que o Senhor nos inspirou. O martírio não tardará a cingir-nos a fronte duma auréola de glória: os anjos de Deus nos esperam.

— A minha última resolução, venerável Cremilde, é acabar junto de vós e de nossas irmãs. O meu ânimo sairá, como o delas, ileso da última prova que Cristo nos pede na vida. Como elas, darei sem hesitar testemunho da Cruz. O velho bucelário de meu pai mente à própria consciência quando afirma que os infiéis respeitarão a pureza de uma donzela goda: a infâmia tem sido escrita por eles na fronte das famílias mais ilustres da Espanha: o cutelo ou a prostituição é o que os árabes oferecem à inocência. Eu escolho o cutelo: a morte vale mais que a desonra. Porventura, para a evitar me guiou o Senhor ao Mosteiro da Virgem Dolorosa.

— Seja feita a vontade do Altíssimo — respondeu a abadessa alevantando ao céu as mãos, entre as quais apertava o punhal.

Depois de um momento de silêncio, Cremilde disse, voltando-se para o lado esquerdo:

— Hermentruda, aproximai-vos!





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