A Brazileira de Prazins - Cap. 12: CAPÍTULO XI Pág. 111 / 202

Miguel em Portugal?

- Eu, senhor, eu! - respondeu o padre, batendo na arca do peito com as mãos ambas. - eu!

O veríssimo folheava o punhal dos corcundas, e parecia não perceber a veemência do padre.

- Bons desejos, bons desejos do caro abade..

- E de quase toda a nação portuguesa, senhor! D. Miguel I nunca deixou de reinar nos corações do seu povo. Eu tenho na minha alma o retrato dele desde que o vi há treze anos em braga e lhe beijei as suas reais mãos! - escandecia-se o entusiasmo, punha as mãos, chamejavam-lhe nos olhos reflexos do fogo interno; e o veríssimo continuava a folhear o punhal dos corcundas.

- Então viu-o, abade?

- Sim, meu senhor, vi-o com estes olhos, toquei-lhe com estas mãos.

- Ainda se recorda das suas feições?

- Perfeitamente.

- Ah! Se o visse hoje, decerto o não conhecia... Está muito acabado.

- Conhecia, conhecia..

O abade sentiu um raio de dramatização que o vibrou todo. Eriçaram-se-lhe os cabelos, e coou-lhe pela espinha uma faísca elétrica. Fez um passo atrás, e quando o veríssimo repetiu: “era impossível conhecê-lo”, o padre pôs um joelho em terra, estendeu o braço direito, e com o dedo indicador em riste, exclamou:

- Ei-lo! Ei-lo!

- O abade! O senhor está alucinado! Por quem é, levante-se! Eu não sou quem pensa!

- Estou como devo estar diante do meu rei! - teimou o abade, com os dois joelhos no sobrado.

- Levante-se que vem gente! - dizia o outro, ouvindo passos na escada.

Era o nunes.

- Entre, amigo! - disse o abade, respondendo ao vizinho que pedia licença.

Torcato encontrou o abade de joelhos e o veríssimo esforçando-se por levantá-lo.

- Ajoelhe ao meu lado, nunes! Que eu estou aos pés de el-rei! - exclamou o padre.

E o outro, ajoelhando:

- Eu já o sabia, real senhor!

Foi assim que se inaugurou a corte de D.





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