CAPÍTULO VII Às sete da noite, a soirée do monarca de calvos compunha-se do visconde nunes, seu secretário privado e brigadeiro de infantaria, do abade capelão-mor de el-rei, de dois reitores, cónegos despachados, e o ex-sargento-mor de rio caldo, nomeado capitão-mor de Lanhoso. Estavam todos em pé resistindo à licença de se sentarem. A cadeira de sola estava com o príncipe encostada ao relógio; e, na mesa central, papéis, o tinteiro de chumbo, o novo príncipe, de gama e castro, a besta esfolada e o punhal dos corcundas, do bispo frei Fortunato. Em cima das caixas do milho estava uru meio alqueire com feijões brancos, destinados às tripas, e dois foles vazios que a senhorinha tencionava encher de grão para a fornada quando el-rei se recolhesse. Sobre um dos foles resbunava um gato enroscado.
Esperava-se o apresentante da carta de vasco da Cerveira.
Às oito horas anunciaram-se os adventícios. O barão de Bouro entrou primeiro, a passo mesurado, com o peito alto, e o pescoço hirto numa gravata enchumaçada, preta, de cordãozinho de arame, sem laço, atacando os lóbulos das orelhas, um pouco reentrante na altura dos gorgomilos. Usava óculos de ouro quadrados e uma pêra grisalha; de resto, rapado. Envergava casaca nova de lemiste, muito refestelada, de abas compridas com ancas proeminentes, segundo a moda; do cós das calças, cor de gema de ovo, pendiam berloques com armas, uma medalha com o retrato de D. Miguel aos vinte e dois anos, e uma peça de ouro com a mesma real efígie. No peito da camisa, entre as lapelas do colete de veludo cor de laranja, trazia pregado um punhal esmaltado, em miniatura, enigma convencional dos cavaleiros de S. Miguel da ala, obra patriótica do ourives novais, pai do poeta faustino.
Após ele, entrou o Zeferino das lamelas, muito enfiado, num espasmo, sentindo-se aluir pelos joelhos.