CAPÍTULO X O Cerveira lobo saíra, com o Zeferino, para braga na sexta-feira de manhã. Estariam aqui até à madrugada de sábado, e partiriam então para a póvoa de Lanhoso com os três contos de reis, repartidos em libras pelas algibeiras dos dois. Além de um criado de velha libré, avivada de azul, de botas de prateleira e chapéu de sola, levavam bacamartes nos arções dos selotes, todos três. Foram descansar e jantar à hospedaria dos dois amigos. O Cerveira vestia casaca no trinque muito lustrosa, e gravata de cambraia com laço; o peitilho postiço atado ao pescoço saía muito rijo de goma reles de entre as lapelas derrubadas do colete de veludo preto. A calça de pregas, ampla, à cavalaria, afunilava-se no artelho, quebrando no peito do pé. As botas de polimento novas rangiam e as esporas amarelas no tacão, com grandes rosetas, tilintavam num estardalhaço de caserna. Comprara chapéu de pasta com molas que faziam saltar a copa, e enchiam como uma bexiga, que parecia pantominice das comédias, dizia o Zeferino.
Às quatro horas o fidalgo de quadros e mais o pedreiro sentaram-se à mesa redonda. Já constava em braga que estava ali o Cerveira lobo, que desde 1835 não saíra da casa-solar de Vermoim. Alguns primos visitaram-no; as famílias legitimistas, e principalmente senhoras velhas, mandavam-lhe bilhetes.
Dizia o Zeferino que o incomodavam tantas etiquetas, que estava morto por se safar, não estava para lérias: que as tais senhoras sotomaiores, as peixotas e as Meneses deviam ser mais velhas que a sé, uns estafermos. Ele segredava ao ouvido do Zeferino coisas, ratices suas em braga, quando era rapaz. - que fizera um destroço nas primas, tudo pelo pó do gato. Que pagara bem o seu tributo à asneira; e casquinava com vaidade paparreta, carregando-lhe a mão no verde.