CAPÍTULO XI O Torcato, antes de entrar em casa, foi à residência. Ia misterioso, circunvagava uns olhares cautelosos: - se ninguém o ouviria? - perguntava ao abade Mairos.
E o abade, entrepondo as cangalhas nas páginas do breviário: - pode falar, que estou sozinho. Que é?
- D. Miguel I está em Portugal - disse, curvando-se-lhe ao ouvido, com uma voz gutural.
- Você que me diz?! Como sabe isso? Pataratas!
- Chego agora do porto; estive com o escrivão fidalgo, o ferreira rangel, e com o abade Gonçalo Cristóvão. El-rei está nesta província. Desconfia-se que é em braga, e o José alvo Balsemão disse-me que talvez eu o visse brevemente no nosso concelho, porque o levantamento há de começar por aqui.
- Que me diz você, amigo Torcato? - sacudia os braços, fazia estalar os dedos como castanholas, tinha gestos mudos de exultação extática - que ia escrever ao abade de priscos, que indagasse, que aparecesse... - É preciso trabalhar, preparar os ânimos...
- Chitão! - acudiu o nunes com o dedo a prumo sobre o nariz. - nada de espalhafato! Não ferva em pouca água, abade. Se der à língua, esbarronda-
se o negocio. O rei só há de aparecer aos seus amigos quando os generais entrarem pela Galiza. Não fala a ninguém; não se dá a conhecer. Diz que só falara em lisboa com o conde de pombeiro e com o Bobadela, e no porto com o José António, o morgado do bom jardim, e mais com o padre luís do torrão... O abade conhece.
- Pois não conheço? Como as minhas mãos; é o vice-rei nas províncias do norte... O nosso bom padre luís de sousa, que pelos modos está nomeado patriarca de lisboa... Que pechincha, hem?
- É esse mesmo... Bem! Até logo; vou ver a mulher e os filhos a casa, que ainda lá não fui. Um abraço, amigo abade! Parabéns! A choldra vai cair! Vida nova! Daqui a um mês está todo esse Minho em armas, e ei rei à frente dos seus vassalos.