Além de que, o padre marcos, tratando-o sempre por senhor - o senhor isto, o senhor aquilo - , entendia que se aproximava do tratamento que se deve aos reis, e ao mesmo tempo ia insinuando ao real hóspede que já o conhecia.
- Bom é que ele se vá persuadindo que não somos pategos - dizia o abade ao nunes. - sim, bom é que se persuada... Você percebe. - e piscava com esperteza.
- Ora, se percebo! O abade tem andado com uma cábula muito fina. Eu é que me custa a ter mão em mim. A minha vontade era deitar-me de joelhos aos pés dele, e dizer-lhe: “Real senhor, nada de disfarces! Aqui estão dois vassalos da vossa majestade que lhe oferecem o seu sangue!”
- Deixe estar - acomodava o padre - deixe estar, nunes. As coisas não vão assim... Quando for tempo, eu lhe direi... Nada de espantar a caça.
O veríssimo pediu ao abade algum livro para se entreter, e não o obrigar a aturá-lo. O padre levou-o ao seu quarto, onde havia uma estante de pinho com três lotes de livros. Mostrou-lhe o punhal dos corcundas, a defesa de Portugal, do padre Alvito Buela, a besta esfolada, os burros, e o novo príncipe. O veríssimo levou-os para o seu quarto, exceto os burros; disse que não gostava de poesia. Falou com louvor do padre José agostinho e de frei Fortunato de S. Boaventura - colunas do altar e do trono, que tinham deixado dois vácuos impreenchíveis na falange realista. Perguntou-lhe o abade se os tinha conhecido pessoalmente. - que sim, com as suas mãos... E sorria, como o príncipe proscrito, se lhe fizessem semelhante pergunta.
- Que prazer teria o padre José agostinho, se hoje vivesse e pudesse ver el-rei!... - meditou o abade com a sua grande perspicácia observadora.
- Decerto. - concordava o veríssimo indolentemente. - mas quem tem agora esperanças de ver D.