CAPÍTULO IV Do alto Minho continuavam as notícias alegremente agitadoras. O Cristóvão bezerra, ex-capitão-mor de santa marta de Bouro, escreveu ao seu parente de barrimau. Dizia-lhe que constava que o Sr. D. Miguel estava no seu reino, e - o que mais era - muito perto dali. Que não se podia explicar mais pelo claro sem ter a certeza de que o seu primo entendia a cifra de comunicação entre os membros da ordem de S. Miguel da ala, instituída pelo Sr. D. Afonso Henriques e renovada ultimamente pelo monarca legitimo - explicava. O major bezerra era comendador da ordem e conhecia a cifra: - que escrevesse francamente. E, desconfiando do correio, mandou a santa marta de Bouro o afilhado, o filho do alferes Gaspar, com uma carta muito importante. O pedreiro, a impar de soberba por tal mensagem, posto que não participasse do segredo do padrinho, que era discreto, disse ao pai:
- Ou eu me engano, ou o Sr. D. Miguel está por aí, não tarda...
O alferes sentiu uma descarga elétrica na coluna vertebral e convulsionou-se extraordinariamente. Fazia lembrar fenómenos que se contam de movimento galvânico nos paralíticos, colhidos de improviso pelo terror ou pela exultação; mas o Gaspar, como só tinha o esófago desimpedido, bebeu, com a escorrência absorvente de um olho-marinho, muita aguardente, e desatou a berrar o rei-chegou.
O filho, com a discrição própria de um agente secreto da restauração realista, zangou-se com o berreiro cívico do pai e perguntou-lhe se estava bêbedo. O velho entusiasta, ferido no seu coração de vassalo e de progenitor. Teve um honrado intervalo lúcido, quando lhe replicou:
- Se eu não estivesse aqui tolhido, respondia-te, malandro!
Deitou o albardão à égua e partiu para terras de Bouro o Zeferino.