- Você ainda não ouviu falar desta carta!? - perguntou com sobrançaria impertinente, dando saliva aos dedos para a desdobrar. - não se fala noutra coisa. Toda a gente sabe que vem aí do brasil o meu Feliciano para comprar quintas.
- Já me constou - disse o pedreiro - , mas você rói a corda à conta disso, acho eu. - e como o lavrador hesitasse: - o negócio da rapariga está feito ou não está feito? Os homens conhecem-se pela palavra e os bois pelos cornos. Ponha para aí o que tem no interior.
O Simeão mascava, torcia-se, metia com dois dedos a carta estafada na carteira e resmungava:
- Você, enfim, isto é um modo de falar, como o outro que diz; você bem entende que...sim...
- O que eu entendo fisicamente falando é que você não me dá a rapariga.
- Deixe ver, deixe ver o que diz o meu irmão - tartamudeava.
- Sabe você que mais? - volveu iracundo o arquiteto, dando com o olho do machado num canhoto. - você é de má casta. Não tem palavra nem vergonha nessa cara estanhada. Você é da geração dos travessas da serra negra, e basta... Não lhe digo mais nada... - alusão pungente a um tio do Simeão, o Barnabé, capitão das maltas de salteadores que infestaram em 1835 aquela serra.