O Retrato de Ricardina - Cap. 17: CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE Pág. 114 / 178

Depois, mando recado à fidalga, e digo-lhe que se prepare que a vou levar ao Sr., Doutor. Vou à cavalariça, aparelho dois machos, e por aqui me sirvo. Logo que chegarmos à raia, mando os machos ao dono, e boas-noites... Lá vou para onde Vossas Senhorias forem.

Bernardo, no apogeu da comoção, beijou as barbas grisalhas de Norberto, e quase caiu de joelhos à frente do incansável valedor, que tantas vezes torcera e partira o grilhão de ferro que o chumbava à sepultura.

Ao cerrar da noite, Norberto voltou a Viseu, apossou-se do macho e voltou a lugar indicado na estrada de Moimenta. Era nado o Sol quando chegaram a Moreirinhas, e ao cair da noite estavam na Praça de Almeida. De madrugada, Bernardo passou a fronteira, e Norberto voltou a Viseu. Chegado à abadia, saiu-lhe ao encontro o padre, exclamando:

- Perdeste o tempo: não podias saber nada.

- Nada, meu amo.

- Ela, a perdida, estava em casa dos Pimenteis...

- Como assim? - acudiu sinceramente espantado o Calvo.

- É o que te digo: de casa dos Monizes passou para a dos padres do Sobral, e de lá para a Reboliça.

- E agora?

- Já os mandei avisar que lá vou buscá-la pelas orelhas, e que se preparem para uma festa como a dos Monizes.

- Oh! cos diabos! que franciscanada! - exclamou o criado, revolvendo no espírito os recursos do seu tão afortunado engenho.

- Quando é a pega? - perguntou ele.

- Ainda não sei: estou a ver o que os Pimenteis fazem de hoje até amanhã. Se ma entregarem, vai de ali debaixo de prisão, com um oficial de Justiça, para o Porto; senão, vamos a eles, que chegou a hora de saldar contas. A eles! - concitou Norberto, esfregando os joelhos.

- Esta gentalha de brasão e sem brasão há de afinal saber quem são Botelhos de Queirós - bradou o padre.





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