Norberto olhou para o abade, e baixou os olhos coriscantes que podiam atraiçoá-lo.
- Quando quer Vossa Senhoria que eu parta?
- Já, almoça e vai. Monta no macho ruço, que é mais andador.
Norberto recebeu as últimas ordens e partiu para Viseu. Andada uma légua, encontrou os milicianos, cujo alferes lhe perguntou donde era.
- De Espinho - disse ele - , sou criado do Sr. Abade.
- A casa da Fonte é perto de lá?
- Muito perto. Os senhores, ainda que eu seja confiado, vão prender o Bernardo Moniz?
- Que lhe importa a você?!
- É que se vão a isso, escusam de ir, que ele foi morto a tiro esta noite.
- Por quem?
- Lá por uns homens.
- E o Francisco estará lá?
- Também morreu.
- E o padre que também era estudante?
- Desse ouvi dizer que fugiu.
- A diligência há de cumprir-se até voltarmos com a certeza do que este homem conta - disse o meirinho-geral ao alferes.
- Passem muito bem - concluiu Norberto. Chegou a Viseu. Pôs o macho na manjedoura, comprou unguentos num a botica, e por atalhos da serra foi a casa da sua mãe. Era meio-dia. Bernardo Moniz estava sentado na enxerga da velha, que lhe lavava o ferimento: era superficial, bom de cicatrizar sem intervenção cirúrgica.
Norberto, depois de exordiar incutindo ânimo no seu amigo, contou-lhe o restante da tragédia, quanto ao irmão assassinado. De Ricardina disse-lhe que não pudera saber nada. Referiu-lhe o encontro que tivera com a tropa, e terminou deste modo:
- A ferida não presta. Vossa Senhoria esta noite faz jornada, e vai para Espanha. Tenho às minhas ordens o macho em que o patrão me mandou a Coimbra saber onde está a fidalga, porque a quer mandar para a Casa da Estopa. Logo que o Sr. Doutor esteja em Espanha, volto para casa, e digo ao abade que ninguém me deu notícias da senhora.