A Origem das Espécies - Cap. 6: CAPÍTULO V
LEIS DA VARIAÇÃO Pág. 159 / 524

estas diferenças são aparentemente tão importantes - havendo casos, segundo Tausch, em que as sementes são ortospérmicas nas flores exteriores e coelospérmicas nas flores interiores - que o velho De Candolle sustentou em diferenças análogas as principais divisões que fez daquela ordem. Pelo que vemos que as modificações de estrutura, consideradas muito valiosas pelos sistematizadores, podem dever-se inteiramente a leis de correlação de crescimento desconhecidas, sem que tenham, tanto quanto podemos ver, a mais ínfima utilidade para as espécies.

Podemos muitas vezes atribuir falsamente à correlação de crescimento estruturas que são comuns a grupos inteiros de espécies e que, em boa verdade, se devem simplesmente à hereditariedade; pois um progenitor antigo pode ter adquirido através da selecção natural alguma modificação de estrutura, e, após milhares de gerações, outra modificação diferente e independente; e seria muito natural considerar que estas duas modificações, tendo sido transmitidas a todo um grupo de descendentes com hábitos distintos, estão correlacionadas de alguma maneira necessária. Pelo que, mais uma vez, não duvido de que algumas correlações aparentes, que ocorrem em ordens inteiras, se devem inteiramente ao modo exclusivo de acção da selecção natural. Por exemplo, Alph. De Candolle observou que nunca se encontram sementes aladas em frutos que não abrem: devo explicar a regra pelo facto de que as sementes não se poderiam tornar aladas gradualmente através da selecção natural, excepto em frutos que abrissem; pelo que as plantas individuais que produzissem sementes um pouco mais bem adaptadas para ser transportadas mais longe através do ar poderiam obter uma vantagem sobre as que produzem sementes menos adaptadas à dispersão; e este processo não poderia de maneira alguma ocorrer num fruto que não abrisse.





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