A Origem das Espécies - Cap. 15: CAPÍTULO XIV
RECAPITULAÇÃO E CONCLUSÃO Pág. 516 / 524

Não obstante, não fingem que podem definir, ou sequer conjecturar, quais são as formas de vida criadas e quais são as produzidas por leis secundárias. Admitem a variação como vera causa numa circunstância, rejeitam-na arbitrariamente noutra, sem atribuir qualquer distinção nos dois casos. Virá o dia em que isto será apresentado como uma curiosa ilustração da cegueira e da opinião preconceituosa. Estes autores não parecem mais surpresos perante um milagroso acto de criação do que perante um nascimento comum. Mas acreditarão realmente que em inumeráveis períodos na história da Terra certas partículas elementares subitamente se transformaram, mediante uma ordem, em tecidos vivos? Acreditarão que em cada suposto acto de criação foi produzido um indivíduo ou muitos? Foram todos os tipos infinitamente numerosos de animais e plantas criados como ovos ou sementes, ou já adultos? E no caso dos mamíferos, foram criados exibindo as falsas marcas de terem sido alimentados no ventre materno? Embora os naturalistas muito apropriadamente exijam uma explicação completa de cada dificuldade por parte daqueles que acreditam na mutabilidade das espécies, por seu turno ignoram todo o assunto do primeiro aparecimento de espécies no que consideram silêncio reverente.

Poder-se-á perguntar a que ponto alargo a doutrina da modificação das espécies. A questão é difícil de responder, porque quanto mais distintas são as formas que podemos considerar, menor força têm os argumentos. Mas alguns argumentos do maior peso vão muito longe. Todos os membros de classes inteiras podem ser ligados conjuntamente por cadeias de afinidades, e todos podem ser classificados com base no mesmo princípio, em grupos subordinados a grupos. Os vestígios fósseis por vezes tendem a preencher intervalos muito amplos entre ordens existentes.





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