Ninguém se deveria sentir surpreso perante muito do que fica por explicar a respeito da origem das espécies e variedades, tendo em devida consideração a nossa profunda ignorância acerca das relações mútuas de todos os seres que vivem à nossa volta. Quem pode explicar a razão por que uma espécie tem uma distribuição ampla e é muito numerosa e outra espécie próxima tem uma distribuição mais limitada e é rara? Contudo, estas relações são da mais elevada importância, pois determinam o bem-estar presente e, segundo creio, o sucesso e modificação futuros de cada habitante deste mundo. Menos ainda sabemos acerca das relações mútuas dos inumeráveis habitantes do mundo durante as muitas épocas geológicas decorridas na sua história. Apesar da grande obscuridade que permanece e permanecerá durante muito tempo, não me restam quaisquer dúvidas, depois do estudo mais cuidadoso e do juízo mais imparcial de que sou capaz, de que a perspectiva adoptada pelos naturalistas na sua maioria, e que adoptei antes - nomeadamente, a de que cada espécie foi independentemente criada -, é errónea. Estou plenamente convencido de que as espécies não são imutáveis; pelo contrário, os membros daquilo a que chamamos «os mesmos géneros» são descendentes directos de outras espécies, geralmente extintas, da mesma maneira que as variedades reconhecidas de qualquer espécie são descendentes dessa espécie. Além disso, estou convencido de que a selecção natural tem sido o instrumento principal, embora não exclusivo, da modificação.