A Origem das Espécies - Cap. 1: INTRODUÇÃO Pág. 5 / 524

Esta é a doutrina de Malthus, aplicada à totalidade dos reinos animal e vegetal. Na medida em que nascem, em cada espécie, muito mais indivíduos do que os que têm possibilidade de sobreviver; e na medida em que daí decorre uma incessante luta generalizada pela existência, segue-se que qualquer ser que sofra a mais ligeira variação, que de alguma maneira lhe seja vantajosa, sob as complexas e por vezes variáveis condições de vida, terá uma maior probabilidade de sobreviver e assim ser naturalmente seleccionado. Segundo o princípio forte da hereditariedade, qualquer variedade seleccionada tenderá a propagar a sua nova forma modificada.

Este tema fundamental da selecção natural será tratado com algum detalhe no quarto capítulo; veremos então como a selecção natural provoca quase inevitavelmente grande parte da extinção das formas de vida menos aperfeiçoadas e produz aquilo a que chamei «divergência de carácter». No capítulo subsequente, discuto as complexas e pouco conhecidas leis da variação e correlação de crescimento. Nos quatro capítulos seguintes, apresenta-se as dificuldades mais evidentes e graves da teoria: nomeadamente, em primeiro lugar, as dificuldades das transições, ou de compreender como um ser simples ou um órgão simples se podem modificar e aperfeiçoar até se tornarem um ser altamente desenvolvido ou um órgão elaboradamente construído; em segundo lugar, o tema do instinto, ou dos poderes mentais dos animais; em terceiro lugar, o hibridismo, ou a infertilidade de espécies e a fertilidade de variedades quando entrecruzadas; e em quarto lugar, a imperfeição do registo geológico. No capítulo seguinte, considerarei a sucessão geológica dos seres orgânicos ao longo do tempo; nos capítulos XI e XII, a sua distribuição geográfica no espaço; no capítulo XIII, a sua classificação ou afinidades mútuas, na maturidade como em estado embrionário.





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