A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 90 / 524

não poderiam entrar livremente formas novas e mais bem adaptadas, teríamos então espaços na economia da natureza que seriam seguramente melhor preenchidos se alguns dos habitantes originais fossem de certa maneira modificados; pois, se a área fosse aberta à imigração, estes mesmos locais seriam ocupados por intrusos. Nesse caso, cada modificação ligeira que por acaso surgisse ao longo do tempo e que favorecesse de alguma maneira os indivíduos de qualquer das espécies, adaptando-os melhor às suas condições alteradas, tenderia a ser preservada; e a selecção natural teria assim rédea livre para o trabalho de aperfeiçoamento.

Temos razões para crer, como se afirmou no primeiro capítulo, que uma mudança nas condições de vida, agindo em especial sobre o sistema reprodutivo, causa ou intensifica a variabilidade; e no caso precedente as condições de vida sofreram supostamente uma mudança, o que seria manifestamente favorável à selecção natural, oferecendo uma maior probabilidade de ocorrerem variações benéficas; e a menos que ocorram variações benéficas, a selecção natural nada pode fazer. Não creio que seja necessária uma quantidade extrema de variabilidade; tal como o homem pode seguramente produzir grandes resultados acumulando numa dada direcção meras diferenças individuais, também a natureza o pode fazer, mas com muito mais facilidade, uma vez que dispõe de uma quantidade de tempo incomparavelmente maior. Tão-pouco acredito que haja uma efectiva necessidade de qualquer grande mudança física, climática ou qualquer nível invulgar de isolamento que impeça a imigração, para a produção de novos espaços vagos que a selecção natural possa preencher através da modificação e aperfeiçoamento de alguns habitantes variáveis. Pois, enquanto todos





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