Variava muitas vezes de penteado: penteava-se à chinesa, com caracóis, com tranças; fez um risco ao lado, na cabeça, e enrolou o cabelo para baixo, como um homem.
Quis aprender italiano: comprou dicionários, uma gramática e uma quantidade de folhas de papel. Experimentou as leituras sérias, a história e a filosofia. Às vezes, de noite, Charles acordava sobressaltado, julgando que o vinham chamar para ir atender um doente:
- Vou já - balbuciava ele.
E era o barulho dum fósforo que Emma riscara para acender a lâmpada. Mas acontecia com as leituras o mesmo que com os seus bordados, que, todos começados, lhe enchiam o armário; ela pegava-lhes, largava-as e passava a outras.
Tinha acessos, durante os quais era facilmente levada a fazer extravagâncias. Um dia apostou com o marido que seria capaz de beber metade de um grande copo de aguardente e, como Charles cometeu o disparate de a desafiar a fazê-lo, engoliu a aguardente até à última gota.
Apesar dos seus ares levianos (era o termo usado pelas senhoras de Yonville), Emma não parecia alegre e, habitualmente, conservava nos cantos da boca aquela contracção imóvel que enruga o rosto das solteironas e dos ambiciosos desiludidos. A sua palidez era geral, apresentando-se branca como linho, com a pele do nariz esticada junto das narinas, olhando para as pessoas de um modo vago. Por ter descoberto três cabelos brancos junto as fontes, fartou-se de falar da sua velhice.