Madame Bovary - Cap. 16: VIII Pág. 154 / 382

E ela até vai de braço dado com o Sr. Boulanger.

- A Sr. Bovary! - exclamou Homais. - Deixe-me ir já apresentar-lhe as minhas homenagens. Talvez gostasse de ter um lugar no recinto, debaixo das colunas.

E, sem escutar sequer a Tia Lefrançois, que o chamava para lhe contar mais coisas, o farmacêutico afastou-se, de sorriso nos lábios e perna esticada, distribuindo cumprimentos à esquerda e à direita, ocupando muito espaço com as grandes abas da casaca preta, que flutuavam ao vento atrás dele.

Rodolphe, tendo-o avistado de longe, apressara o passo; mas a Sr. a Bovary sentiu faltar-lhe o fôlego; ele reduziu então o andamento e disse-lhe a sorrir, sem qualquer delicadeza:

- Foi para evitar aquele grosseirão, sabe?, o boticário. Emma deu-lhe um toque com o cotovelo.

«Que quererá dizer isto?», perguntou a si mesmo.

E espreitou-a de soslaio, continuando sempre a andar.

O perfil dela estava tão sereno, que nada deixava adivinhar. Destacava-se em plena luz, no oval do seu chapéu, cujas fitas de cor desmaiada lembravam folhas de funcho. Os olhos, de pestanas compridas e arqueadas, olhavam bem em frente e, conquanto fossem abertos, pareciam um pouco repuxados para as maçãs do rosto devido ao sangue, que lhe pulsava suavemente debaixo da pele fina. Um tom rosado atravessava-lhe o septo do nariz. Levava a cabeça ligeiramente inclinada para o ombro e via-se-Ihe entre os lábios a ponta dos dentes alvos.

«Estará a troçar de mim?», pensava Rodolphe.

Aquele gesto de Emma fora afinal um simples aviso; porque o Sr. Lheureux os acompanhava, dirigindo-lhes de vez em quando algumas palavras, procurando entabular uma conversação:

- Está um dia magnífico! Toda a gente na rua! O vento sopra do nascente. Nem Emma nem Rodolphe lhe alimentavam a conversa, enquanto Lheureux, ao mínimo movimento deles, se aproximava e, levando a mão ao chapéu, dizia: «Se vos agrada a companhia.





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