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A estalajadeira não tirava os olhos da porta do Café Francês, enquanto o farmacêutico continuava:
- Prouvera a Deus que os nossos agricultores fossem químicos, ou que, pelo menos, escutassem mais os conselhos da ciência! Eu, por exemplo, escrevi recentemente um volumoso opúsculo, uma memória de mais de setenta e duas páginas, intitulada: Da Sidra, do Seu Fabrico e dos Seus Efeitos; Seguida de Algumas Reflexões Novas sobre o Assunto, que enviei à Sociedade Agronómica de Ruão; o que me valeu a honra de ser admitido entre os seus membros, secção de agricultura, classe de pomologia; pois bem, se a minha obra fosse dada à publicidade...
Mas aqui deteve-se o boticário, tão preocupada lhe parecia a Sr. Lefrançois.
- Ora vejam lá aquilo! - dizia ela. - Nem se chega a perceber! Uma baiuca daquelas!
E, levantando os ombros de um jeito que lhe fazia esticar no peito as malhas da camisola, apontava com as duas mãos a taberna do seu rival, onde agora se ouviam cantigas.
- Demais a mais, já não lhe resta muito tempo - acrescentou ela. Em menos de oito dias está tudo acabado.
Homais recuou estupefacto. A estalajadeira desceu os três degraus e, segredando-lhe ao ouvido, disse:
- Como! Então não sabia? Vão-lhe levantar uma penhora esta semana.
É o Lheureux que o vai obrigar a liquidar tudo. Afundou-o com letras. - Mas que pavorosa catástrofe! - exclamou o boticário, que tinha sempre expressões adaptadas a todas as situações imagináveis.
A hospedeira pôs-se então a contar-lhe aquela história, que ela sabia por Théodore, o criado do Sr. Guillaumin, e, embora detestasse Tellier, censurava Lheureux, que era um aliciador, um servil.
- Olhe!, lá está ele, no mercado, a cumprimentar a Sr. Bovary, que vai de chapéu verde.