A Ilha Misteriosa - Cap. 23: CAPÍTULO V Pág. 148 / 186

.. Ah! Se eles soubessem que os defensores eram apenas quatro! "Valente Ayrton!", pensava o engenheiro a caminho do planalto. Uma vez lá chegado, ficou estarrecido: os campos tinham sido positivamente devastados e as searas meticulosamente espezinhadas; a horta fora igualmente arrasada e as instalações consumidas pelo fogo! Os poucos animais, que tinham sobrevivido à matança, erravam em pânico pelo planalto. Muito pálido e controlando a ira com dificuldade, Cyrus Smith voltou para casa.

Harbert estava pior e as tisanas já não produziam qualquer efeito. O infeliz rapaz ora delirava, ora caía numa prostração profunda. Spilett, que não abandonava a cabeceira do doente, acabou por perceber a razão daquele agravamento. Com efeito, a alternância entre os delírios e as convulsões da febre e as fases de letargia só podia significar uma coisa: Harbert sofria de uma crise de malária, doença que certamente contraíra numa das idas aos pântanos mas que só agora se revelara, dado o enfraquecimento generalizado do organismo do rapaz por causa dos ferimentos.

Era urgente combater o mal, evitando novo febrão que poderia ser mortal! Como não tinham quinino - o remédio mais indicado contra a malária ou paludismo - ainda tentaram chás de casca de salgueiro, mas sem resultados...

Na noite de 7 de Dezembro, Harbert teve um novo ataque e tão violento, que Gedeão Spilett acreditou que o jovem amigo se despedia da vida. Era terrível verificar que o doente já não reconhecia ninguém, ora contorcendo-se delirante, ora quedando- -se inanimado! De repente, Top, possuído de estranha agitação, começou a rosnar, sendo logo acalmado pelo dono, em respeito pela agonia do moribundo.

Pelas cinco da manhã, mal despontava a aurora, Pencroff, que não conseguia ficar quieto de tanta aflição, andando de quarto em quarto entrou no salão.





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